Será que alguém já parou para pensar no que essas grandes estrelas – que vem pra cá fazer espetáculos para milhares de pessoas – exigem em seus camarins ou em torno de suas viagens? Pois é, pouca gente reflete sobre isso, mas o montante de coisas exigidas pelos rockstars é de fazer inveja a qualquer pobre mortal que mal pode pagar suas contas com o nosso glorioso salário mínimo.
Vou me limitar ao caso mais recente, que é dos britânicos do Oasis. Sem fazer qualquer tipo de juízo de valor, até porque se fosse partir para esse viés desceria a lenha na arrogância e prepotência da fraternidade Gallagher, apresento a lista de exigências da banda para os concertos aqui do Brasil – e olha que ainda faltam algumas que nem foram divulgadas. Para quem gosta de extravagâncias e dinheiro jogado fora, sobram coisas exóticas, para os conservadores, a repúdia é iminente.
É válido ressaltar que, ao meu ver, esse tipo de frescura (no português bem claro) é desnecessária. E isso isenta exclusividade crítica ao Oasis, já que a maioria dos conjuntos estrangeiros que pisam em solo brasileiro fazem pedidos absurdos e risíveis. Sendo assim, de quem é a culpa afinal? Talvez nossa mesma (grupo da qual me incluo). Pagamos uma grana fora da nossa realidade para prestigiar duas horas de show de pessoas que, no fundo, devem rir da nossa cara ao final do espetáculo; afinal, enquanto eles nadam no dinheiro e tomam champagne e vinho dos mais caros do mundo, nós sofremos pagando um preço astronômico no ingresso, no estacionamento e nos comes e bebes dentro da casa de show, ou super-hiper-mega arena musical distante da cidade – como nos casos dos recentes Planeta Terra e Just a Fest.
Há o que fazer? Acho difícil, já que é inviável se mobilizar em protestos diante dessas atrocidades cometidas contra nós mesmos. O ideal seria que ninguém comprasse os ingressos, mas sei que isso soa como utopia e devaneio. A realidade é que, enquanto houver gente disposta a pagar 100, 200, 300 ou até 600 reais para assistir essas bandas, os preços nunca chegarão a um patamar acessível à maioria das camadas da população. É provável que haja alguma outra solução, já que recentemente pudemos ver o concerto de um dos maiores ícones da música clássica mundial, o tenor italiano Andrea Bocelli, sem custo algum. Que seja impossível trazer músicos do cacife de Oasis a custo zero, mas que pelo menos haja bom senso na hora da venda dos ingressos; vivemos no Brasil, um dos países com maior desigualdade social no mundo e que ironicamente figura entre os líderes dos rankings de preços abusivos. Alguma coisa muito errada tem aí e deve ser mudada. Enquanto isso não ocorre, continuamos vendo esses artistas esbanjando egocentrismo e preciosismo exagerado nos palcos brasileiros.